Mulheres no automobilismo: barreiras e conquistas

FOTO: RACE FANS
O automobilismo sempre foi uma das práticas esportivas mais emocionantes e competitivas do mundo. Grandes pilotos fizeram história atrás do volante e são enaltecidos até hoje. Os primeiros registros de corridas envolvendo veículos constam que o automobilismo se iniciou na Europa, a partir da segunda metade do século XIX, pouco depois da invenção do motor a combustão. Na época eram realizados “rachas” que envolviam carros a vapor e movidos à gasolina. Competições em pequena escala eram disputadas, até que em 1906 foi criado o primeiro Grande Prêmio da história que aconteceu em Le Mans, na França.

Após a Segunda Guerra Mundial, houve um grande salto na indústria automobilística, fazendo com que o automobilismo atingisse proporções cada vez maiores. Em 1950 foi criada a Fórmula 1, maior competição automotiva do mundo, a fim de unir todas as corridas de Grand Prix em uma só competição mundial.

Desde então, a disputa dos corredores traz alegria aos espectadores, que torcem, comemoram e se emocionam a cada volta, a cada título, a cada vitória. Muitos pilotos deixaram suas marcas na história do automobilismo e tornaram-se ídolos, como o alemão Michael Schumacher, Juan Manvel Fangio, Alain Prost e até mesmo os brasileiros Nelson Piquet e Ayrton Senna, que é considerado por muitos, um dos melhores pilotos da história.

Apesar de ser um dos esportes mais populares do mundo, o automobilismo é um dos mais caros, pois envolve alta tecnologia para a fabricação de carros apropriados para as corridas, fazendo com que exista muita comercialização, envolvendo muitos fabricantes, engenheiros, mídia e principalmente patrocinadores. Toda essa complexidade exige alto investimento na formação de pilotos. Para construir uma carreira no automobilismo, precisa ter um bom poder aquisitivo ou então contar com a sorte de um apadrinhador que queira investir. Talvez esse seja o maior obstáculo que as mulheres enfrentam na tentativa de ingressar no esporte.
Foto: Razão Automóvel 
Para muitos, mulher e direção não combinam. Esse pensamento arcaico está enraizado em uma sociedade tomada pelo machismo estrutural, impedindo as mulheres de assumirem determinadas posições que são vistas como exclusivas para os homens. As mulheres sempre precisaram lutar para conquistar seu espaço, tanto nas funções sociais quanto no esporte. Por muito tempo foram proibidas de praticar algumas modalidades e isso acarretou um enorme atraso na corrida pela igualdade.

Foto:ACP
Ao longo da história, pouquíssimas mulheres tiveram o prazer de estar atrás do volante em algumas competições importantes. Em 1958, após ser vice-campeã de carros de turismo, Maria Teresa de Filippis foi convidada pela Maserati para disputar a Fórmula 1, tornando-se a primeira mulher a disputar um Grande Prêmio no mundo. Infelizmente, nesse mesmo ano, foi impedida de correr o GP da França, pois o diretor de provas daquela época alegou que “o único capacete que uma mulher tão bonita deveria usar, era o do salão de cabeleireiro”, deixando explícito o preconceito existente no meio automobilístico.

Além de Filippis, algumas outras mulheres adentraram em grandes torneios, como Lella Lombardi em 1975, que conquistou o melhor resultado de uma mulher na F1, mais precisamente no GP da Espanha. Divina Galica e Desirée Wilson também competiram a modalidade e por fim, Giovanna Amati foi o último nome feminino inscrito em uma corrida de Fórmula 1, em 1992. Desde então nenhuma outra mulher conseguiu ocupar uma das 20 posições da maior competição automobilística do mundo.

Entretanto, a história das mulheres no esporte a motor possui mais nomes. Em 1982, Michele Mouton foi vice-campeã mundial de Rali, já em 2001 Jutta Kleinschmidt venceu o Rali Paris-Dakar e a única mulher a vencer uma corrida na Fórmula Indy foi Danica Patrick, que também conquistou a pole-position da Nascar, algo nunca alcançado antes por uma mulher. Algumas brasileiras também desfrutaram do cenário automotivo e adicionaram mais realizações femininas ao esporte, como Suzane Carvalho, Débora Rodrigues, Bia Figueiredo, entre outras.
Foto: Roma News // Na imagem a pilota Beatriz Figueiredo

Existem muitos relatos de que havia um perverso preconceito que, além de causar desconforto, colocava suas carreiras em risco, já que muitas vezes os pilotos realizavam manobras para colocar o carro fora da pista, a fim de eliminar as competidoras. Algumas equipes distribuíam equipamentos inferiores para as mulheres, havia muitas piadas de mal gosto e infelizmente eram obrigadas a ouvir com frequência a expressão “perder para mulher é vergonhoso”.

Atualmente temos exemplos desse tipo de discriminação quando o consultor de equipe da Red Bull, Helmut Marko, diz ao jornal Kleine Zeitung que "A Fórmula 1 é muito física para as mulheres". "Se você está pilotando a 300 km/h e tem uma luta roda a roda, então a brutalidade é parte disso, não sei se isso é da natureza feminina. Você tem de estar em forma na Fórmula 1 e precisa de uma força insana desde o ombro”. Segundo ele, as mulheres não têm capacidade de competir devido a força exigida pelo esporte e isso não faz parte da natureza feminina. Evidenciando mais ainda a rejeição que existe na elite do automobilismo.

Apesar dos grandes feitos realizados por elas, a ausência das mulheres no automobilismo ainda é muito evidente. Não se pode negar que nos últimos anos o cenário vem melhorando, entretanto ainda há muito a ser reparado. É possível acompanhar algumas competidoras que se arriscam em determinadas categorias, como o caso da brasileira Beatriz Figueiredo, que atualmente corre na Stock Car. Bia também obteve outros grandes sucessos na carreira, sendo a primeira mulher no mundo a conquistar o pódio mais alto na Fórmula Renault e em uma corrida da Indy Lights, além de se tornar a primeira brasiliana a disputar as famosas 500 Milhas de Indianápolis, que é uma das mais tradicionais e importantes corridas do mundo.





LOGO WSERIES

Em 2019 houve um enorme avanço pelo fato da criação da W-Series, um campeonato de fórmula exclusivo para mulheres, formado por seis corridas e conta com 20 participantes. O primeiro título da W Series foi conquistado pela britânica Jamie Chadwick, de 21 anos. Além disso, a competição deu mais um salto quando fechou contrato de patrocínio com a Rokit Phones, uma grande empresa de comunicação que patrocina também a Fórmula E e a equipe Willians da Fórmula 1.


FOTO: GLOBO ESPORTE // Primeiro título da W Series, conquistado por Jamie Chadwick. 
Contudo, o desenvolvimento de uma categoria somente feminina não agrada a todos, já que o ideal e justo, seria incluí-las para competir de maneira equivalente, junto com os homens, em categorias iguais e mesmas competições. Porém, é vista para alguns como um passo dado em busca de mais reconhecimento e visibilidade, além de representar mais uma conquista das mulheres no mundo automobilístico.

Hoje, são vistas como inspiração e exemplo para todas as mulheres que sonham em fazer parte do automobilismo, como a jovem catarinense Bruna Tomaselli, que corre pela USF2000 nos Estados Unidos e está tentando uma vaga no grid da W-Series.

Todas as mulheres que fazem parte da história feminina no automobilismo, são consideradas guerreiras por enfrentarem todos os obstáculos existentes em um universo repleto de hostilidade.

Literalmente é uma corrida pela igualdade, por mais visibilidade, mais apoio e aceitação. Não somente no automobilismo, mas em muitas outras modalidades esportivas. As mulheres estão em uma constante luta para conquistar seu espaço. Muito já foi feito, mas ainda é necessário muito mais, uma reparação histórica, o mundo deve isso a elas.



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